quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Minhas asas não sangram mais





Eu voava, você voava comigo.
Nós atravessávamos as nuvens, ignorávamos todos que viviam lá embaixo, nosso amor era único, singular,  feito para encaixar como uma impressão digital, nós conversávamos pelo brilho dos nossos olhos.
Mas eu era tolo, eu demorei pra perceber que você nunca foi como eu.
Eu te carregava sob minhas asas, te levava a lugares que você nunca foi, te falava sobre o infinito e o pra sempre.
Minhas asas começaram a se cansar, você não se importou, eu aguentei o máximo que pude, sem desistir, tentei, tentei, tentei.
Minhas asas começaram a sangrar, eu comecei a cair, você me soltou durante a queda, quando eu mais precisei de você. Conforme eu ia caindo, um frio tomava conta da minha alma, cenas passavam pela minha cabeça, eu conseguia ver tudo, eu estava cego.
Eu me sentia sozinho, tinha medo do mundo lá embaixo.
Cai e bati com o rosto no chão frio, levou um tempo, mas levantei, minhas asas sangravam.
Percebi que nunca estive sozinho, por mais distante que estivesse dos meus amigos, eles me disseram que me observavam voar, sempre.
Cuidaram das minhas asas, cuidaram de mim, trocaram os curativos e confortaram meu coração.
Eu prometi nunca mais voar.
Eu andava sozinho, num sábado a noite, ainda machucado, ainda com curativos.
Conheci estranhos, você estava entre eles.
Mamãe dizia para nunca confiar em estranhos. Mal sabe ela, que eu amo estranhos.
Houve um tempo sem confiança, houve um tempo sem amor, houve um tempo cheio de mentiras e dor.
Mas agora eu vejo que cada mágoa foi uma lição, minhas mágoas eu nunca as guardei, eu sempre as usei, não tenho mágoa de ninguém, tenho apenas gratidão.
Aqui embaixo conheci alguém que não tem asas, pé no chão, mas que parece não se importar de me deixar voar, pois sabe que eu vou voltar.
Eu percebi que você era meu arco-íris duplo.
Foi no dia em que tiramos uma foto juntos, e você – inesperadamente - colocou as mãos nas minhas costas como se eu pertencesse à você.
Foi no dia em que te apresentei uma das minhas bandas favoritas e você as suas.
Foi no dia em que nossos olhares se cruzaram, desviaram, tentaram resistir.
Foi no dia em que nossos corpos soltaram faíscas, como se fossem causar um incêndio.
Foi no dia em que fiquei te provocando, dizendo que nós éramos ''só amigos''.
Foi no dia em que percebi que você era uma das poucas pessoas que conseguia me ver como eu realmente era. Frágil.
Se não fossem as mágoas como eu estaria naquela estrada a noite e conheceria você lá?
Você é meu oposto em todos os sentidos, e eu gosto disso.
As pessoas procuram certeza e segurança em outras pessoas.
Eu não preciso procurar coisas que já tenho comigo.
Agora estou pronto para voltar aos céus,  toda manhã ele vai estar rosa com azul e roxo,
eu me sinto como um pássaro que sempre volta ao seu ninho, eu vou voar, mas sempre irei voltar.
Minhas asas não sangram mais.




Erick Mafra




segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Erick por que não olha nos meus olhos?






- Erick por que não olha nos meus olhos?

(Por alguns segundos sua pergunta ecoa em meus pensamentos.
Quer mesmo saber?
Porque eu morro de medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos, certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas lá do alto, em miniatura. Então, eu logo desvio os meus olhos para amarrá-los em qualquer pedra no chão e me salvar da paixão, da dor, do amor.  Mas, hoje, meus olhos não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.) 

- Porque eu tenho mucha vergonha.

Erick Mafra